segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

"No bairro da Bela Vista ouvir tiros "é normal" "

"Marginalidade, violência e elevada exclusão social caracterizam uma boa parte dos moradores do Bairro da Bela Vista, em Setúbal, onde os estranhos não são, em regra, bem-vindos. Quem conhece este bairro social desde 1980 - ano em que acolheu as primeiras famílias - até acha "normal ouvir um ou outro tiro", como o que alvejou a viatura dos bombeiros na passagem de ano. "Aqui é assim", resigna-se Paulo Duarte.Mas há quem tente inverter esta tendência. Não faltam instituições de apoio pelo bairro, que diariamente procuram chegar às famílias mais problemáticas. Um processo que envolve a própria PSP. Mas o trabalho é difícil. Mário Pereira, da Associação Cristã da Mocidade de Setúbal, entidade que desde os anos 80 do século XX acompanha as famílias da Bela Vista, hoje com 50 profissionais, sustenta que o Estado deveria fazer mais por estas pessoas, abrindo-lhe portas do mercado de trabalho, explicando que o "rótulo" do bairro onde se mora é um obstáculo."Em lugar de atribuir o Rendimento de Inserção Social na totalidade, o Governo devia dar só metade e os restantes 50% eles iriam buscar ao seu trabalho", defende. Esta associação desenvolve actividades formativas, desportivas e de lazer, que ocupam cerca de mil utentes, dando prioridade às crianças em idade escolar, mas cuja cultura familiar as empurra para fora do ensino.Cláudio está na casa dos 30 anos e assume ao DN já ter pertencido a um "gangue" da Bela Vista. Começou aos 15 anos a "fazer uns serviços" e esteve detido "várias vezes" por furtos de viaturas, posse ilegal de armas e tráfico de droga. Há três anos decidiu refazer a vida. Está a ser bem sucedido.Quando em Setembro de 2004 saiu pela última vez da cadeia prometeu a si próprio que iria tentar seguir um novo rumo. Teve uma oportunidade numa panificadora, seguiu para a construção civil, passou pela apanha de pinhas, andou na vindima e hoje lava carros. Não usa arma há dois anos, mas ainda tem um processo pendente no tribunal de Setúbal."O problema deste pessoal é quando não tem onde ganhar dinheiro", diz, enquanto olha para os grupos de jovens, alegando que "a sociedade também recebe mal a malta da Bela Vista. Um primo meu, que está outra vez preso, tentou várias vezes arranjar emprego, mas por ser do bairro nem nas obras o quiseram. Voltou a roubar." "

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