terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Barreiras na zona ribeirinha

Após ler o comentário do user 'Barão' nesta mensagem, acerca da 'parede imobiliária' que o executivo camarário pretende para a zona ribeirinha, lembrei-me de um artigo de opinião de Vitor Caldeirinha, publicado no Jornal 'O Setubalense'. Aqui fica:

"Tenho escrito alguns artigos sobre zonas ribeirinhas, destacando o que se deveria fazer em Setúbal para termos tendencialmente uma zona ribeirinha de qualidade, tendo por base a minha experiência na gestão da zona ribeirinha de Lisboa, enquanto Director Comercial do Porto de Lisboa em 2003 e 2004.

Resumo de novo alguns princípios básicos: Os edifícios devem ser pequenos, transparentes (com paredes de vidro), afastados da água, bonitos, sóbrios, enquadrados na envolvente existente; A primazia deve ser para os espaços abertos, amplos e de qualidade, para usos de passeio e fruição simples do público, mas com beleza e qualidade; Devem predominar esplanadas viradas para o mar, mas com mobiliário de elevada qualidade, sem publicidade (esta questão é muito importante); Deverá atribuir-se primazia aos locais públicos, bares, restaurantes, jardins, passeios e infra-estruturas públicas, de preferência em redor de docas de recreio; A habitação deve ser muito reduzida e muito afastada da água.

Neste contexto, já referi que me parece muito importante o novo parque urbano, que ficou muito bem localizado junto ao rio Sado, podendo ser utilizado pela população da cidade, que pode usufruir o seu rio num espaço amplo, aberto e condigno, tal como no jardim da beira-mar recuperado há alguns anos pela APSS.

Pena que já se esteja a construir um muro de betão no jardim, mesmo em cima da água (a cerca de 5 metros), um edifício novo para apoio ao jardim, quando havia muito espaço atrás, longe do rio, que permitiria a quem circula no jardim vislumbrar a beleza da cidade e da restante margem do Sado.

O espaço ribeirinho deve ter sempre apenas uma de duas funções:

a) Actividades económicas ligadas ao mar, como sejam portos de cargas, marinas, pesca, turismo, praia;

b) Amplas zonas abertas de fruição pública e lazer.

Por isso, não se compreende também agora a necessidade de fazer prédios na zona ribeirinha, mesmo que seja para financiar obras noutros locais. Em vez de reabilitar a zona ribeirinha pública, constroem-se barreiras de casas particulares.

Entre os Ferries e o edifício das finanças está um espaço aberto, hoje estacionamento, já por si pequeno, mas que é um bem precioso para a cidade, que por ele respira para o mar quando as pessoas passam nas artérias urbanas circundantes, e por ele desfrutam das vistas do Sado e de Tróia até à Arrábida, sendo uma das grandezas que mais contribui para a identidade da cidade e é o cartão-de-visita, uma vez que por ali passa quem chega da Auto-estrada em negócios ou para almoçar peixe. Um pouco como eram os golfinhos da rotunda.

Os cidadãos gostam de espaços abertos junto ao mar. Mas se tiverem que ser cobertos, então que sejam com edifícios de uso público, ligados ao lazer e ao mar, que sejam muito baixos e reduzidos em área ocupada, transparentes (paredes de vidro) e de grande beleza.

Entre a doca do Clube Naval de Setúbal e o Pingo Doce da Avenida Luísa Tody, está outro espaço aberto de estacionamento, que poderia ser aproveitado para funcionar em conjunto com a doca do Clube Naval, num projecto integrado que ali colocasse um jardim ou área pública com potencial para ser uma zona de atracção de muitas pessoas, com ligação ao mar, aos desportos náuticos, para fruição ou para actividades lúdicas e económicas ligadas ao turismo.

O que não se compreende é a necessidade e apetência dos decisores para a construção de prédios privados nas zonas ribeirinhas, perdendo-se áreas públicas ribeirinhas nobres de elevado valor económico, que passam a ser destinadas o uso exclusivo de alguns, habitação ou escritório, tornando cada vez mais apertadas as vistas do mar e asfixiando a relação entre a população e o rio, fazendo a cidade perder valor económico e turístico face a outras cidades circundantes.

Deveria investir-se mais nas áreas públicas ribeirinhas e não no seu contrário (privatizando áreas públicas), uma vez que este tipo de espaços podem catapultar a cidade para um nível económico acima, em termos de atracção turística e geração actividades económicas inovadoras e culturais.

*Economista de Transportes, Professor no ISEG "

Como sempre a CMS tem mais uma ideia mirabolante, que só ela compreende. E se quisermos ir mais longe, poderiamos considerar algo que já sugeri anteriormente: Retirar os edifícios do Estado da zona da beira-mar.

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